cenário local

A cada ano, 1,5 mil empresas são abertas em Santa Maria

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data-filename="retriever" style="width: 100%;">Fotos: Pedro Piegas (Diário)

Dentro do que é o cerne da economia de Santa Maria, o comércio figura, ao lado da prestação de serviços, como o carro-chefe da economia local. O município viu e viveu, entre 2014 a 2018, os efeitos mais nocivos de uma economia estadual combalida (com o parcelamento de salários de servidores, ainda em vigência) e com uma conjuntura federal nada atrativa (impeachment, polarização política e greve dos caminhoneiros) que levou Santa Maria a uma retração poucas vezes sentida. 

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O maior município do centro do Rio Grande do Sul sofreu os impactos de todo esse cenário que se abateu sobre o Estado e o país. Porém, a percepção de crise tem, aos poucos (mesmo que de forma tímida), se distanciado do horizonte de comerciantes e lojistas. A classe empresarial tem apresentado sinais de que reage e, assim, começa a retomar os investimentos.

Prova disso são os dados nacionais que apontam que, em 2019, as vendas do comércio varejista cresceram 1,8%, conforme informado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa é a terceira alta anual seguida, uma vez que o setor já vinha demonstrando recuperação em 2018 (2,3%) e 2017 (2,1%).

Em 2019, conforme os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), Santa Maria criou 734 postos de trabalho com carteira assinada. Deste número, 388 ficaram na conta do setor do comércio que, mais uma vez, reforça a importância para a economia local. Não por acaso, o segundo setor que mais gerou oportunidades foi o serviços que, na sequência, abriu 362 vagas.

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O consumo das famílias, puxado por um estímulo provocado pelo governo federal ao liberar os saques do FGTS, deu uma ligeira injeção de ânimo ao comércio local. Além disso, agora, os meses de fevereiro e de março - com a retomada do ano letivo (nas redes pública e privada), além das aulas na UFSM e das instituições de Ensino Superior - já deram outra dinâmica ao comércio santa-mariense.

- Santa Maria, agora em fevereiro e março, saiu daquela inércia, que é própria do mês de janeiro para a economia local. Já será mais perceptível a pujança do comércio da cidade - avalia o professor do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFSM, Daniel Coronel.

A maior instituição da cidade, a Câmara de Comércio, Indústria e Serviços de Santa Maria (Cacism), vê 2020 como um ano para, ao menos, "empatar" frente às dificuldades. O presidente da instituição, Luiz Fernando Pacheco, resume que o comércio é uma peça-chave na engrenagem do 5º maior município do Estado. Entendimento que ele reforça com base em números. As 153 empresas associadas à Cacism, ligadas ao setor do comércio, empregam 3.147 pessoas.

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- Um ponto positivo (do comércio) é a alta de empregos. Mesmo que não tenham uma média salarial alta e atrativa, o comércio ajuda a dar estabilidade na economia local. Esse setor é a ponta final, e sem dizer que é sempre um termômetro fidedigno - pontua Pacheco.

REPRESENTATIVIDADE
Ao considerar os dados do IBGE Cidades, Santa Maria concentra 85% do Produto Interno Bruto (PIB) no binômio serviços e comércio. Juntos, sob o guarda-chuva desses dois setores, estima-se que sejam empregados, ao menos, 10 mil pessoas.  

Ao desmembrar esses percentuais, que integram o estudo Perfil das Cidades Gaúchas, que é de 2019, feito pelo Sebrae, o comércio representa fatia de 36% na participação que considera o número de empresas que geram postos de trabalho. O setor de serviços vem, na sequência, com 49%. 

Os dados são ligeiramente diferentes do que fora divulgado pela Agenda 2020, ainda em 2017, que apontou a participação por setor na geração de postos de trabalho na seguinte proporção: serviços (59,1%), comércio (25,4%), indústria (10,7%), construção civil (3,9%), agropecuária (0,9%).

CENÁRIO LOCAL

  • Santa Maria tem, atualmente, 9.855 empresas prestadoras de serviço
  • Setores mais representativos em termos de recolhimento de imposto são: bancos e assessoria financeira; serviços médicos (clínicas, hospitais); transporte; serviços; educação e construção civil
  • De 2017 a 2019, 4,6 mil empresas foram abertas, todas ligadas aos segmentos de prestação de serviço, indústria e comércio
  • Nesse período, 734 fecharam
  • A arrecadação de ISS em 2018 foi de R$ 65 milhões. Em 2019, foi de R$ 70 milhões

Dois segmentos passam (quase) à margem da crise
Ainda que o comércio (onde também está inserido o varejo) passe por uma crise, que já se arrasta por anos, há, pelo menos, dois segmentos que passam à margem da crise. Os setores supermercadista e farmacêutico acabam sentindo menos os impactos de momentos de maior turbulência. Isso se dá por motivos óbvios, como destaca o economista Daniel Coronel: 

- Por mais grave e séria, que seja uma crise, as pessoas não vão deixar de consumir produtos alimentícios, de ir ao mercado. Elas podem, por exemplo, deixar de comprar uma marca melhor. Mas irão trocá-la por um produto similar e mais barato. Mas a compra, em resumo, será efetuada. O mesmo, é claro, vale para o mercado das farmácias. As pessoas não vão deixar de comprar remédios e de cuidar, minimamente, da saúde.

Segundo Coronel, os dois segmentos têm uma concorrência grande. Porém, não deixam de ter procura e de aquecer, como um todo, a economia.

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REFLEXOS
O economista, porém, atenta para uma situação junto ao segmento farmacêutico. Uma crise econômica penaliza, com mais intensidade, as pequenas farmácias, uma vez que elas não têm oferta de capital e de crédito, em abundância, para concorrer com as grandes redes.  

Quanto aos supermercados, há outro fator a ser considerado, que é o crescimento do chamado índice de ruptura (que mede a falta de produtos em supermercados). Na prática, isso quer dizer que o cliente, antes, chegava a encontrar, por exemplo, até quatro marcas diferentes de um mesmo produto. Hoje, no máximo, há duas.

Ao mesmo tempo, os mercados têm apostado no que é chamado de "atacarejo", que une o atacado e o varejo. Nesses locais, independentemente se a compra é em baixa ou grande escala, são ofertadas várias marcas e com preços mais em conta. Outra característica é o surgimento de minimercados em bairros periféricos. O que tem sido uma alternativa frente ao desemprego, explica o economista. Os minimercados caracterizam-se por fidelizar a clientela do bairro.

Lojas de rua vêm perdendo espaço, diz secretário
O tradicional comércio de rua de Santa Maria - localizado, em sua maioria, no Calçadão e na Rua do Acampamento, tem perdido espaço ao longo dos últimos anos. Esse "definhamento", avalia o secretário de Finanças, economista Mateus Frozza, se dá por, ao menos, dois motivos. O primeiro pela falta de uma atualização, de parte dos lojistas que, conforme Frozza, "estagnou no tempo". 

Mesmo assim, ele cita iniciativas positivas - como o Liquida Santa Maria e a própria Faculdade do Varejo, capitaneada pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e a Faculdade Integrada de Santa Maria (Fisma). Porém, "a conjuntura atual desfavorece qualquer tipo de inovação mais arrojada".

- Aquela loja, seja do vestuário ou do calçado, que achava que só tinha como vender com uma loja física, tornou-se obsoleta. Hoje, o ecommerce está aí para mostrar que há como comprar um calçado, aquele mesmo que se encontra na loja física, por um valor muito mais em conta. Então, não basta apenas estar no Centro. Os shoppings também estão aí para concorrer com o comércio do Centro, e para aumentar a concorrência - afirma o secretário.

Frozza diz que falta o entendimento, para quem é do comércio, que é preciso "segmentar":

- Tem loja física? Ótimo. Mas por que não estar online, com uma loja virtual, com o ecommerce? Sem dizer que, basta dar uma caminhada pelo Centro para ver que, no sábado à tarde, tem muita loja fechada. Aí, então, os shoppings viraram uma alternativa ao público.

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ARRECADAÇÃO
Santa Maria tem, atualmente, seis grupos que, juntos, representam por 35,5% do total da arrecadação de Imposto Sobre Serviços (ISS). No ano passado, a prefeitura arrecadou R$ 70 milhões com o tributo. Em 2018, foram R$ 65 milhões. Os setores com maior participação são: financeiro (bancos e assessoria financeira) com 12%, saúde (médicos, clínicas, hospitais) com 8%, transporte (público, escolar, excursão) e serviços (limpeza, zeladoria) ambos com 5%, educação (escolas e Ensino Superior) com 3% e, por fim, construção civil com 2,5%. 

Para a Cacism, aposta passa por fidelizar o cliente
O presidente da Cacism, Luiz Fernando Pacheco, avalia que o comércio tem demonstrado fôlego, ainda que não na velocidade desejada e esperada por comerciantes e lojistas. Pacheco entende que o desafio do empresário desse segmento está em fidelizar o público e conhecer, a fundo, o que o cliente procura para delinear uma estratégia para atraí-lo. 

- Não há receita pronta. O cliente precisa ser fidelizado mesmo que, às vezes, isso possa representar na compra de um produto mesmo caro. A compra presencial, entendo, traz como diferencial a garantia e a segurança. Isso é algo que o ecommerce não oferta - aponta.

Pacheco acredita que o empresariado deve saber se valer de outra característica própria de Santa Maria: a renda fixa dos servidores públicos:

- Santa Maria tem um expressivo contingente de servidores públicos. Sejam eles ligados ao Exército, UFSM, Judiciário, município e Estado, o fato é que há um aporte incrível de recursos que podem ser replicados no comércio como um todo. Claro, que há um contexto de parcelamento dos salários dos servidores do Estado, mas ainda assim há um poder de compra elevado e que tem inúmeras oportunidades junto ao nosso comércio. 

Inovar para não ficar preso ao antigo calendário de datas comemorativas
O economista Daniel Coronel é enfático ao dizer que é preciso romper com práticas antigas. Ele explica que o empresariado não pode ficar preso ao calendário de datas comemorativas como tábua de salvação. 

- É preciso arrojar e empreender mais. Ou seja, criar ações criativas, como promoções e condições atrativas para quem queira comprar, seja à vista ou a prazo. Não se pode ficar olhando apenas o calendário esperando que uma determinada data comemorativa seja a salvação. É claro que há datas que, obviamente, são rentáveis e lucrativas. Porém, isso é algo que, era comum e compreensível, em décadas passadas. O caso do Black Friday, mesmo, evidencia isso. Há quem ainda não ache que essa seja uma boa oportunidade de negócio - afirma.

Ao observar, basicamente, três tipos de público - o do funcionalismo público, da iniciativa privada e aquele que, recentemente, tenha recuperado o crédito -, é que o empresário deve traçar estratégias segmentadas.

Coronel cita o recém realizado Liquida Santa Maria, tradicional campanha de descontos do comércio, no mês de fevereiro, criada para zerar os estoques e alavancar as vendas em um mês morno. Para o economista, a proposta é um exemplo de algo que pode ser aprimorado.

- É uma iniciativa positiva e válida. Mas é possível, daqui a pouco, torná-lo ainda mais atrativo, com descontos mais convidativos - sugere.

Nesta semana, a CDL informou que uma pesquisa com os lojistas indicou que o Liquida deverá ter a duração reduzida nos próximos anos de um mês para duas semanas, a exemplo do que ocorreu em 2020.  

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